Poesia, justiça, amante da vida. Neruda é paixão.

Poesia, justiça, amante da vida. Neruda é paixão.

Eu gosto muito do Chile: Atacama, La Serena, Rencagua, Puerto Montt, Punta Arenas, a capital cultural Valparaíso e seus arredores Viña del Mar, Concón, Quilpué, Villa Alemana… Sempre que posso, retorno para encontrar os colegas, amigos das palavras, parceiros e editoras locais. Um dos lugares que me sinto acolhido e bastante confortável.

Urbano que sou, para a capital Santiago, faço diferenciação notória. Os finais de dia nas praças, o volume de livrarias, o prazer que as pessoas têm por música e leituras, o interesse dos chilenos em me guiarem para conhecer os artistas, os livros e seus autores. O Chile de Gabriela Mistral, de Roberto Bolaño, de Nicanor Parra, de Rosabetty Muñoz, de Isabel Allende… E o Chile de Pablo Neruda. Confesso, desta lista toda, ele foi o último que eu me debrucei para ler com afinco, mas não menos importante, o li de modo diferente e especial: no Chile, em visitas às suas casas, conhecendo seus cantos, conversando com pessoas e sabendo de suas histórias.

Nascido em 1904, na cidade de Parral, o chileno Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto adotou o pseudônimo Pablo Neruda em homenagem ao poeta tcheco Jan Neruda – e convenhamos, Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto não cabe na capa de um livro.

Desde cedo, mostrou talento para a escrita, publicando seu primeiro livro, “Crepusculario” (1923), aos 19 anos. Mas foi com “Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada” (1924) que ele realmente “causou” ao celebrar o corpo da mulher, estabelecendo-se como uma voz poderosa na literatura mundial – em uma carreira literária marcada por uma vasta produção que inclui poesia, prosa e ensaios, em diálogos com o amor e suas convicções sociais, demonstrando um profundo compromisso com a justiça social.

Sua obra “Canto Geral”, publicada em 1950, é talvez a mais emblemática – um épico poético que oferece uma visão crítica da história da América Latina, destacando as lutas e as injustiças sofridas pelos povos do continente. Uma visão profunda sobre o colonialismo das américas.

Além de sua prolífica carreira literária, também teve uma atuação política significativa. Diplomata entre as décadas de 1920 e 1940, serviu em diversos países, incluindo a Espanha e o México. Durante a Guerra Civil Espanhola, testemunhou a violência e a repressão, o que influenciou profundamente sua escrita e seu engajamento. Suas viagens e estadias em diferentes culturas lhe proporcionaram uma perspectiva ampla sobre questões sociais, tornando-o uma voz influente tanto na literatura quanto na diplomacia.

Filiado ao Partido Comunista do Chile, foi eleito senador em 1945. Sua militância o levou ao exílio durante o governo de Gabriel González Videla, retornando ao Chile apenas após a queda deste regime. Após retornar ao Chile, continuou a se envolver na política – um dos aspectos mais marcantes de sua vida -, apoiando o presidente Salvador Allende.

Uma curiosidade é sua paixão como colecionador, especialmente conchas do mar. Em suas três casas – La Chascona, em Santiago; La Sebastiana, em Valparaíso; e Isla Negra, na costa central – cada uma decorada de forma única, também refletem sua personalidade excêntrica. Estas casas hoje funcionam como museus, preservando seu legado e oferecendo um vislumbre de sua vida pessoal.

Devoto de suas amadas, escreveu centenas de cartas de amor, muitas posteriormente publicadas, revelando um lado íntimo e pessoal do escritor. Suas cartas oferecem uma visão profunda de suas emoções e pensamentos, mostrando a complexidade de sua personalidade.

Pablo Neruda faleceu em 1973, pouco após o golpe militar que derrubou Salvador Allende. Há controvérsias sobre as circunstâncias de sua morte, com algumas teorias sugerindo que ele foi assassinado pelo regime de Pinochet.

Em 1971, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, um reconhecimento de sua contribuição inestimável à literatura mundial. Certamente, um dos poucos prêmios que ele não usou para escorar uma mesa bamba. Suas obras são estudadas em escolas e universidades ao redor do mundo, e suas poesias ainda ressoam profundamente com leitores de todas as idades. 

Celebrar seu nascimento em 12 de julho é refletir sobre a vida e a obra de um legado deixado por um poeta, sobre o amor, o humanismo e a defesa incansável pela justiça social. Neruda continua vivo.

Celebre Pablo Neruda hoje e sempre

Defeitos escolhidos & 2000

Ao se deparar com a iminência da própria morte, Pablo Neruda (1904-1973) resolveu enfrentá-la à sua maneira: escrevendo. Defeitos escolhidos & 2000 são dois dos seus livros de poesia publicados postumamente. O grande poeta aborda a morte como um enigma impenetrável da existência humana, mas não se limita a ela. Estes livros também sintetizam de forma arrebatadora um dos temas mais caros à lírica do poeta chileno – a viagem, seja ela temporal, territorial ou mesmo rumo ao desconhecido. Neruda convida o leitor a imaginar essas diversas travessias e divide com ele suas maiores indagações sobre o mistério da finitude e da inexorabilidade do tempo.

O coração amarelo

Nos poemas de O coração amarelo estão presentes os temas preferidos de Pablo Neruda – amor, amizade e reminiscência do passado. Mas percebe-se também, nestes versos, uma nota leve, bem-humorada e melancólica, como uma despedida de uma grande vida ou um prenúncio dos negros tempos da ditadura pela qual seu país, o Chile, passaria.

No final da vida e no ápice do sentimento de compaixão pela humanidade, Neruda manteve a sonoridade, a maestria de linguagem e o lirismo que o alçaram a um dos maiores nomes da poesia do século XX e que fizeram dele um dos laureados pelo Prêmio Nobel (1971) mais populares já visto. 

Cem sonetos de amor

O poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) foi, sem dúvida, uma das vozes mais altas da poesia mundial do nosso século. Ao mesmo tempo, o poeta engajado nas causas da liberdade, o exilado, o resistente, é protagonista de uma das aventuras mais expressivas da lírica em língua espanhola. Seus poemas de amor – e estes Cem Sonetos de Amor são um dos legados mais perfeitos – emocionaram e emocionam várias gerações. Poeta admirado internacionalmente, recebeu a consagração definitiva com o Prêmio Nobel de Literatura em 1971.

Poemas de Pablo Neruda para jovens

Pablo Neruda (Nobel de Literatura em 1971) escrevia com leveza. Queria tocar todos, assim como todos e todas as coisas o tocavam. Fez ode a tesouras, tomates e pianos com o mesmo ardor com que falou sobre o mais celebrado dos sentimentos. Os poemas desta seleção foram traduzidos pela também poeta Marília Garcia e são acompanhados pelas ilustrações em colagem do premiadíssimo Odilon Moraes. Neste belo conjunto, o leitor é levado a um passeio ao lado de Neruda, e são seis os seus caminhos possíveis: o amor, as perguntas, a matéria, as coisas, o povo e o poeta.

A Barcarola

A Barcarola representa possivelmente o ponto mais alto de tensão poética e plenitude expressiva alcançado por Neruda na última etapa da sua obra. Vasto poema de amor, o livro alterna a exaltação à companheira do poeta com os episódios relativos às circunstâncias históricas, à experiência pessoal, às paisagens e figuras simbólicas ou a personagens do passado (Lord Cochrane, Joaquim Murieta, Rubén Darío), que contém, de certo modo, a chave do presente latino-americano.

Ao reunir sob a mesma atmosfera, sob o mesmo universo poético, lírico e o épico, A Barcarola consegue, a um só tempo, se constituir na síntese das duas manifestações centrais da grande poesia nerudiana.

Carlos Galego

Carlos Galego é assessor de comunicação da Tocalivros, com larga experiência no mercado cultural e de entretenimento. É autor de dois livros e escolhido entre os 20 principais poetas nacionais em 2021 pelo Poetize. Editor de trabalhos como Ruídos Urbanos (de Ricardo Martins), Poesia de Mim (de Vanessa Lima), Vou Ali e já volto! (de Gerson Danelon) e Frases da vida (de Alma Impressa). Se dedica também a artes visuais, e ministra aulas e cursos de comunicação para setor privado, e oficinas de comunicação cultural em Secretarias de Cultura municipais 

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