Nove romances, diversos contos, resenhas e ensaios críticos, lutas internas, empoderamento feminino em toda a sua trajetória, professora de história e literatura, palestrante, oposicionista as regras vigentes…
Há 142 anos nascia Virginia Woolf (1882 a 1941). Escritora e ensaísta britânica e uma das autoras de mais importância na literatura no século 20.
Toda sua obra é marcada pela presença feminina e a construção de seus textos caracterizados pelo monólogo interior, chamado de fluxo de consciência, técnica literária que tenta ilustrar e transcrever o processo de pensamento de um personagem, em uma estrutura que se assemelha à forma como pensamos.
Começou a escrever aos nove anos atraída pela atmosfera intelectual de sua casa: da imensa biblioteca de seu pai, o jornalista Leslie Stephen, aos recorrentes encontros de artistas, jornalistas e escritores em sua residência.
Seu primeiro romance foi publicado em 1915 (A Viagem), mas conheceu o sucesso literário em 1925, ao publicar “Mrs. Dalloway” pela sua própria editora, a Hogarth Press, que fundou com seu marido Leonard Woolf.
Woolf foi revolucionária. Uma oposicionista do período vitoriano, falava abertamente sobre as restrições feitas às mulheres da época e a necessidade de serem livres financeiramente e socialmente.
Junto com nomes como o economista John Maynard Keynes, o romancista Edward M. Forster e o escritor Lytton Strachey fazia parte de um ciclo de intelectuais inglês denominado Grupo de Bloomsbury, que existiu entre 1905 até o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
Contrários às convenções da vida Vitoriana e aos hábitos burgueses, acreditavam nas rupturas sociais e no prazer, período que Virginia nutriu um inspirador romance declarado com a poetisa Vita Sackville-West (que a inspirou a escrever o romance Orlando). O grupo foi determinante para rupturas comportamentais, e influenciaram profundamente a literatura, a economia e questões sociais da época.
Para além da literatura, Woolf foi (e ainda é) fundamental pelas suas contribuições às correntes do feminismo, levantando temas como a dificuldade que escritoras e intelectuais mulheres enfrentam, por conta das diferenças econômicas e legais entre gêneros no período vitoriano, bem como o futuro das mulheres na educação e sociedade.
Mesmo uma conceituada e celebrada escritora, sua vida nunca foi fácil. As perdas precoces de sua mãe e irmã quando era criança, a morte de seu pai e abusos sexuais quando menina de 6 anos pelos seus irmãos – fato revelado em seu livro “Momentos da Vida” – eram rasgos que se apresentavam nas diversas crises de depressão e angústia que a perseguiram a vida toda. Memórias do passado somadas com as tragédias da vida adulta vividas na guerra.
Com os bolsos do casaco cheio de pedras, em 28 de março de 1941, Virginia Woolf mergulhou no rio Ouse, para nunca mais voltar.
Abaixo algumas sugestões desta autora que, entre seus trabalhos destacam-se “Um Teto Todo Seu”, considerado um dos 100 livros do século pelo jornal francês Le Monde.
Conta a história de um dia na vida de uma dama de nobre linhagem casada com um deputado conservador e mãe de uma adolescente. Retrato perspicaz de paisagens e sentimentos, Virginia Woolf observa a alta sociedade londrina do início da década de 1920 e conduz sua personagem a uma pungente viagem interior.
Virginia Woolf discute a necessidade de as mulheres escritoras conquistarem seu espaço, tanto literal quanto metafórico, dentro de um universo dominado por homens. Se Shakespeare tivesse tido uma irmã, dotada dos mesmos talento e inteligência, poderia ela edificar o mesmo legado do famoso bardo? Ideias como essa afluem neste livro com a liberdade inerente a todo pensamento. Esta edição, traduzida por Vera Ribeiro, conta com um contundente prefácio da escritora Ana Maria Machado.
Divertido e instigante, Orlando é um livro de múltiplas possibilidades — homem e mulher, passado e futuro, vida e história, amor e literatura. Uma verdadeira obra-prima de Virginia Woolf.
Ensaio que dá título à presente coletânea, na qual se reúnem nove prosas mais poéticas. Virginia contrasta a visão de um eclipse total do sol com a dos peixes num aquário de Londres; discorre sobre Montaigne e sobre a paixão da leitura; relembra, em traços delicados e comoventes, a convivência com o pai; teoriza sobre a nascente arte do cinema e sobre as relações entre a literatura e a pintura; enaltece as paradoxais vantagens de se ficar doente; celebra as belezas naturais de Sussex e as delícias urbanas de uma caminhada fortuita por Londres. És Virginia, em toda a força poética de sua prosa.
Através de “falas” em linguagem elevada, elíptica, literária, acompanhamos a vida de seis personagens da infância à velhice. Mas não sabemos precisamente nem o tempo nem os locais em que a “ação” se passa.
Ao farol é um romance rico, multifacetado, cujos vários e combinados aspectos compõem a marca da grande obra-prima, propõe uma jornada ao interior da consciência dos personagens, num novo estilo narrativo e reflete sobre a própria natureza da arte.
Carlos Galego é assessor de comunicação da Tocalivros, com larga experiência no mercado cultural e de entretenimento.
É autor de dois livros e escolhido entre os 20 principais poetas nacionais em 2021 pelo Poetize.
Editor de trabalhos como Ruídos Urbanos (de Ricardo Martins), Poesia de Mim (de Vanessa Lima), Vou Ali e já volto! (de Gerson Danelon) e Frases da vida (de Alma Impressa).
Se dedica também a artes visuais, e ministra aulas e cursos de comunicação para setor privado, e oficinas de comunicação cultural em Secretarias de Cultura municipais