A renomada série de livros adaptada para a televisão, “As Crônicas de Gelo e Fogo”, se tornou audiolivro na Tocalivros em 2019. Foram quatro anos de projeto, (“A Guerra dos Tronos” em 2019; “A Fúria dos Reis” e “A Tormenta das Espadas” ambas em 2021, e “O Festim dos Corvos” em 2022). Neste meio tempo, a empresa passou por uma grande metamorfose: a renovação da equipe e a localização do estúdio Toca. Como foi a produção deste imenso projeto? O que esperar dela? Conversamos com alguns membros da equipe que nos contaram como foi a experiência: Caio de Santis, Rafael de Falco e Vinícius Basílio.
“As Crônicas de Gelo e Fogo” moldou os parâmetros do áudio na Tocalivros. Mesmo para uma empresa que preza a qualidade desde sua fundação, o projeto foi essencial para o planejamento dos audiolivros da Toca. A roteirização dos livros e a pesquisa prévia – agora formada pelo setor de pré-produção – iniciou-se naquele momento, uma maneira de pensar em otimizar o trabalho, garantindo a qualidade.
Projeto este que consistiu com um cardápio de narradores (ou catálogo ou acervo, como queiram chamar) de mais de trinta vozes. Uma superprodução que conta com diversos atores e atrizes, nomes como Mel Lisboa e Rubens Caribé. Para a narrativa, contamos com a presença de Zeza Motta nas perspectivas femininas e Daniel Vidal nas masculinas, vozes que acompanham o projeto desde Guerra dos Tronos a Festim dos Corvos.
Vidal, radialista, traz com uma voz grave um tom épico para a narrativa. Isso a torna “menos pretensiosa”, de acordo com Rafael de Falco. Mesmo não sendo ator, Vidal quase tornou-se um nas cenas de tensão, de acordo com Caio de Santis. Um exemplo que o editor nos deu foi do personagem Tyrion, o qual diz coisas que não são as mesmas que ele pensa. Enquanto Vidal dá voz aos pensamentos, Giovanni Venturini, voz do personagem, narra suas falas.
Zeza, atriz, é narradora dos pontos femininos do livro. Também adota um tom épico, mas aqui podemos apontar sua habilidade como atriz: a cada perspectiva é adotado um tom diferente. Veja Arya e Daenerys, ingênuas e inocentes no começo, mas seu crescimento as tornam personagens maduras, havendo um “crescimento” na narração para cada personagem. Há também um fato interessantíssimo na escolha de uma narradora feminina: de acordo com Clayton Heringer, diretor artístico da Tocalivros, pela grande quantidade de estupros e abusos durante o livro, a narração masculina deixaria a situação fetichista, enquanto a feminina faz com que o audioleitor fique inquieto.
Os demais atores foram escolhidos para o papel de acordo com a construção das personagens. Por exemplo, Arya ganha vida na voz de Paola Molinari, e Cersei na voz de Priscila Scholz, narradoras fixas da casa. A escolha da dubladora Paola, que se torna Arya, é sua habilidade em replicar uma voz jovial. No início, uma criança, com uma voz infantil, até seu crescimento, se tornando uma jovem confiante. Já Priscila, como Cersei, tem a potencialidade de criar personagens, tanto de uma mulher sofredora a uma com status de forte rainha.
A produção expressa a dificuldade de construir algumas cenas. Os atores faziam suas cenas de maneira isolada, ou seja, cenas em um mesmo diálogo eram gravadas em dias diferentes – um trabalho delicado de direção. Essa diferença precisava ser bem feita para não passar a imagem que não estavam interpretando entre si. Essa era uma das dificuldades da direção: que os diálogos conversassem bem dentro da cena.
Houve igualmente uma evolução na produção de áudio. Veja que a edição trabalha com o distanciamento das falas, interrupção (quando a fala é próxima), reticências, e o tempo na hora dos conflitos. Tem o controle do volume – grito, fala alta, fala baixa. Um exemplo é algo que eles nomeiam como “intenção de grito” na narração, ou seja, o ato de não gritar, mas interpretar a intenção de um grito real, para que não estoure o áudio.
Ademais, por ter diversos editores, tiveram que manter um padrão na edição para a construção artística e criativa. Veja que cada perspectiva é separada por um projeto diferente, isso porque há personagens que aparecem somente em perspectivas específicas, de forma a auxiliar os editores quanto a gravação e edição dos narradores específicos.
Considerando a quantidade de dubladores no elenco, o que diferencia a dublagem de um audiolivro? Caio de Santis explica. A dublagem trabalha em cima de uma atuação, algo pré-efeito. Já um audiolivro utiliza um recurso de criação original. A intenção em si já não é pré-estabelecida. Para Vinícius Basílio, a dublagem tem um apoio visual, diferente do audiolivro.
Caio de Santis, um dos membros da produção que ajudou na direção, nos conta a experiência de lidar com tantos narradores. Em primeira mão, a produção faz uma apresentação de um briefing dos personagens – o narrador é orientado a estudar os personagens antes da captação. Então, as vozes são criadas pelo captador e narrador. “É necessário conhecer a intenção do personagem, e não improvisar.”
Entramos em um tópico interessante. Como é trabalhar com um áudio que envolve uma história com uma língua inventada? As pronúncias, além de partirem da própria série (que teve acompanhamento e aprovação de Martin) também teve como referência a cultura pop, ou seja, algo que os próprios fãs se apropriaram. Parte da organização do projeto era manter nas pronúncias um padrão – do primeiro aos outros livros.
Caio de Santis também conta sobre seu gosto pessoal: o produtor tinha grande admiração pela série; por outro lado, achou o audiolivro mais fácil que na leitura dos livros. Ele dá exemplo de outra produção Toca, “Amar, Verbo Intransitivo”, uma obra de Mário de Andrade com uma leitura bastante truncada, mas que a interpretação da narradora Adélia Nicolete é mais profunda que ler o livro original.
Por outro lado, Rafael de Falco expressa a imersão que é ouvir o áudio, considerando os detalhes dos cenários e ambientes dos lugares, cenas e personagens. Conta também que a dinâmica de vozes ajudou; o áudio oferece emoção à interpretação, ajudando na imaginação das vozes dos personagens para aqueles que só leram o livro, dando características físicas à voz deles.
Por fim, Vinícius Basílio, que também acompanhou o projeto desde seus primórdios, conta um pouco como foi sua experiência pessoal e profissional. Vinícius entra na Toca e tem como primeira experiência trabalhar em um grande lançamento; uma experiência assustadora, considerando uma narração que exige muito do editor, com a expectativa de um grande público, com muitas horas e que exige muito conhecimento. Vinícius acrescenta também sobre como a faculdade de Rádio/TV o auxiliou no conhecimento de audiovisual, de roteirização e projeção, experiência que levou aos projetos.
Considerando a ministração do tempo de muitos narradores e a necessidade de otimizar o trabalho, a ideia de uma “pré-produção” é iniciada a partir do segundo livro. É organizado uma tabela de pronúncia, uma tabela de aparição dos personagens, e uma fragmentação de separar capítulo por personagens. Com os novos implementos, é iniciado, a partir do terceiro livro, a roteirização.
A história pede muitos narradores. Há muitos personagens pontuais – que eventualmente sua participação vai crescendo nesta série de livros. Nestas horas, a própria produção participou como personagens em alguns contextos. O editor Caio de Santis conta um pouco da participação, e reitera sua participação como a voz do Hodor. Um personagem com repetição de frases, mas que tem que criar diferentes intenções para o personagem.
Acrescento que este é o único audiolivro do mundo das Crônicas de Gelo e Fogo com vários narradores. E, para conferir mais projetos com tamanho desempenho, continue acompanhando as produções da Tocalivros, que neste ano fez 10 anos. Toda produção foi um triunfo para a evolução do áudio, da construção artística e criativa dos projetos. Talvez “As Crônicas de Gelo e Fogo” seja sua nova aventura para acompanhar.
A guerra dos tronos é o primeiro livro da série best-seller internacional As Crônicas de Gelo e Fogo, que deu origem à adaptação de sucesso da HBO, Game of Thrones.
O verão pode durar décadas. O inverno, toda uma vida. E a guerra dos tronos começou.
Como Guardião do Norte, lorde Eddard Stark não fica feliz quando o rei Robert o proclama a nova Mão do Rei. Sua honra o obriga a aceitar o cargo e deixar seu posto em Winterfell para rumar para a corte, onde os homens fazem o que lhes convém, não o que devem… e onde um inimigo morto é algo a ser admirado.
Longe de casa e com a família dividida, Eddard se vê cada vez mais enredado nas intrigas mortais de Porto Real, sem saber que perigos ainda maiores espreitam a distância.
Nas florestas ao norte de Winterfell, forças sobrenaturais se espalham por trás da Muralha que protege a região. E, nas Cidades Livres, o jovem Rei Dragão exilado na Rebelião de Robert planeja sua vingança e deseja recuperar sua herança de família: o Trono de Ferro de Westeros.
Com narração de Daniel Vidal, Zeza Mota, Alexandre Mercki, Maria Eduarda, Carlos Oliveira, Martha Guerreiro, Rodrigo Dorado, Paola Molinari, Alexandre Luppi, Stela Tobar, Flávio Costa, Priscila Scholz, Giovanni Venturini, Marina Rotty, Guilherme Conradi, Jefferson Brito, Pedro Silveira, Renato Basilla, Gabriel Taco, Thiago Ubaldo, Fernando Victorino, Camilo Brunelli, Milton Filippetti, Pedro Volpato, Felipe Castilho, Caio de Santis, Thiago Nalin, Juscelino Filho, Clayton Heringer e Rafael de Falco.

Tainara Severo é graduada na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) em Letras Português-Francês. Finalizou seu curso com a pesquisa em tradução do conto de horror “La Remplaçante” de Ketty Steward. Acredita que fazer parte da equipe da pré-produção da Tocalivros e a partilha diária de discussões com seus colegas é um incentivo à leitura constante.