Em um texto desatento, podemos apenas informar sobre a sua história:
Hilda Hilst (1930-2004) foi uma poetisa, cronista, dramaturga e ficcionista – considerada uma das maiores escritoras brasileiras do século 20. Hilda de Almeida Prado Hilst nasceu em Jaú, São Paulo, no dia 21 de abril de 1930. Em 1937, mudou-se para a capital do estado.
Estreou na literatura com a publicação de seu primeiro livro de poesias, intitulado Presságio (1950). Desde então, foram mais de 40 obras publicadas, várias traduções internacionais e inúmeros prêmios.
Em meados da década de 1960, constrói a Casa do Sol nos arredores de Campinas, que atualmente é sede do Instituto Hilda Hilst, tombada pelo patrimônio histórico de Campinas em 2011, e que abriga seu acervo pessoal, biblioteca, roupas, além de manter um programa de residências artísticas.
Mas tudo isso ainda é muito pouco para falar de Hilda Hilst. Escrever sobre a poesia de Hilst é uma tarefa que demanda mais que o simples desejo de compreender o enunciado. Transita entre a obediência ao padrão e a transgressão ditada pelas suas inquietações e vivências. Compreender sua poética é adentrar o universo inquietante do eu lírico que, à semelhança de filósofos gregos, questiona a si mesmo, ao mundo e à realidade.
Hilst, muitas vezes classificada como expressão da metapoesia no Brasil, entretanto, não se deixa prender a rótulos, utilizando sua poética no confronto mesmo das tentativas, quaisquer que sejam elas, de solapar as asas de seu imaginário poético.
A temporalidade na poesia hilstiana é sempre marcada por reflexões, como veículo através do qual o eu lírico trafega de um espaço a outro, de um tempo a outro, revisitando momentos memoráveis, ideias e formas de pensamento. Sua obra é apresentada ao leitor como um objeto de reflexão. Existência própria, existências outras, personagens fictícios ou reais que deixaram seus registros históricos no tempo.
Nos jogos simbólicos dos versos, no vai e vai da temporalidade em seus textos, ele vai deixando os traços de sua humanidade. A face de toda a humanidade que caminha sempre – ainda que tente ludibriá-la nos tortuosos caminhos do labirinto das palavras – naquilo que de fato move o desejo do homem: sua falta estrutural.
Conheça!
Conheça!
Nesta breve coletânea, narrada por Tainá Müller, o leitor vai conhecer as muitas faces da poeta que se dedicou ao amor com total devoção. Do primeiro livro de poesia, Presságio, de 1950, até o último, Cantares do sem nome e de partidas, de 1995, o amor atravessa toda a produção poética de Hilda Hilst. Em constante diálogo com a tradição de odes, trovas e cantares, os poemas tematizam o amor em suas múltiplas formas.
Polêmico, subversivo e implacável da primeira à última página, este livro deu início à fase obscena da autora de Júbilo, memória, noviciado da paixão.
Aos 70 anos de idade, quatro décadas depois de estrear como poeta e inconformada com a tímida recepção de sua obra, Hilda Hilst tomou uma atitude radical. Em 1990, com O caderno rosa de Lori Lamby, resolveu se despedir da “literatura séria” e se dedicar a escrever “adoráveis bandalheiras”.
A narradora, Lori, é uma menina de oito anos que decide se prostituir, com o consentimento dos pais, e registrar tudo — tudo mesmo — em seu diário. Com humor ácido e autoconsciência brutal, ela relata os desenlaces da sedução e o prazer que o dinheiro lhe traz.
Júbilo, memória, noviciado da paixão
Lançado pela primeira vez em 1974, este livro introduz uma nova fase da escritora: é o primeiro volume de poesia depois de sua estreia na ficção.
Júbilo, memória, noviciado da paixão se tornou uma das obras mais lidas, festejadas e estudadas de Hilda Hilst, autora homenageada na Flip 2018. Com a forte marca da prosa, este volume de poemas apresenta os temas que consagraram a poeta: a entrega amorosa, a devoção mística, o anseio pelo encontro, o temor da morte. “Se te pareço noturna e imperfeita”, ela escreve, “Olha-me de novo.”
O volume reúne a última fase da poeta, de Amavisse (1989) a Cantares do sem nome e de partidas (1995).
Em 1989, inconformada com a recepção de seus livros, Hilda Hilst afirmou que Amavisse marcava sua despedida: “Não vou publicar mais nada, porque considerei um desaforo o silêncio”. Mais tarde, o volume se consagraria como um dos títulos mais celebrados de sua obra e seria incorporado à coletânea Do desejo, em 1992. A trajetória de Hilda na poesia se encerraria de fato poucos anos depois, em 1995.
Carlos Galego é assessor de comunicação da Tocalivros, com larga experiência no mercado cultural e de entretenimento.
É autor de dois livros e escolhido entre os 20 principais poetas nacionais em 2021 pelo Poetize.
Editor de trabalhos como Ruídos Urbanos (de Ricardo Martins), Poesia de Mim (de Vanessa Lima), Vou Ali e já volto! (de Gerson Danelon) e Frases da vida (de Alma Impressa).
Se dedica também a artes visuais, e ministra aulas e cursos de comunicação para setor privado, e oficinas de comunicação cultural em Secretarias de Cultura municipais