Nos últimos anos, é muito comum encontrar obras de George Orwell em destaques nas prateleiras e vitrines das principais livrarias do país. Resgatado pela cultura pop, dois livros que estão sempre à mão: “1984” e “A Revolução dos Bichos”, uma fábula política inspirada no desenrolar da Revolução Russa.
Sua distopia literária se apresenta hoje profética, cirúrgica e uma realidade dos tempos presentes. Talvez, não tão distópica assim: o jornalista e escritor, nascido em 1903 em Motihari, na Índia Britânica, e levado ainda bebê para a Inglaterra com sua família de classe média baixa, onde estudou em colégios de elite graças à bolsa de estudos que sua inteligência pôde garantir, sempre trouxe em suas histórias a visão e reflexão de sua própria realidade e experiência, marcando sua biografia com tempos por ele mesmo vivido.
Em “Na Pior em Paris e Londres” e “O Caminho para Wigan Pier”, Orwell trata das duras condições de vida da população mais pobre da França e da Inglaterra. “Homenagem à Catalunha” fala de sua participação na Guerra Civil Espanhola; “Dias na Birmânia ” é baseado em sua atividade como policial de colônia. Orwell escreveu também inúmeros ensaios baseados em sua própria vida e nos tempos em que viveu.
Toda sua carreira é uma referência aos tempos e acontecimentos. George Orwell, por exemplo, é pseudônimo de Eric Blair, seu nome de batismo, mas assumiu Orwell desde seu primeiro livro, após grande reviravolta em sua vida, ao vivenciar conflitos armados e internos enquanto servia o império britânico. O nome deriva do Rio Orwell, que deságua no sudeste da Inglaterra.
Sua passagem pelo exército vem de seu pai, que servia à corte, e foi nesta tradição familiar que, em 1922, Orwell se alistou na Polícia Imperial, onde permaneceu até 1927. Cinco anos foram tempo suficiente para escrever ensaios como “Shooting an Elephant”, “A Hanging”, e o livro “Dias na Birmânia”, que denuncia a verdadeira face do Império Britânico na Índia e em todo o mundo. Dali em diante, abandonou a carreira pública para seguir como autor. Passou fome e se viu obrigado a conviver com criminosos e mendigos das cidades, até que, em 1933, Leonard Moore publicou o primeiro livro do escritor, “Na Pior em Paris e Londres”. Orwell então seguiu uma carreira com as palavras. Seus textos contestadores o levaram também ao jornalismo e ampliou sua carreira.
De escrita crítica e precisa, os romances de George Orwell renderam fãs como David Bowie que chegou a declarar à revista Rolling Stones em 1974, que estava até trabalhando na adaptação da obra para a TV, e o escritor Anthony Burgess, autor de ”Laranja Mecânica”, que declarou ter sido influenciado por ”1984”, obra que o diretor considerou uma das cinco distopias mais importantes da literatura.
Da distopia à realidade, hoje, em ambientes onde a mentira passa a ser considerada verdade ao se tornar uma crença coletiva em favor de outro resultado mais conveniente, onde há também as redes sociais como controle e vigia e os aparelhamentos sociais, George Orwell não é mais distopia.
Tanto que, em 2013, a venda do livro “1984” aumentou 6.888% depois que Edward Snowden revelou o caso de monitoramento de dados nos Estados Unidos. Da 12.859ª posição da lista dos mais vendidos, o livro saltou para a 184ª. Outra edição, que incluía também ”A Revolução dos Bichos”, ocupou o 11º lugar do ranking. Em 2017, o mesmo livro liderou a lista de mais vendidos do mundo após a posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. De acordo com a editora norte-americana que publica a obra, as vendas tiveram um aumento de 10.000%.
Orwell morreu aos 46 anos, no dia 21 de janeiro de 1950, em Londres, por tuberculose. Seu túmulo está na Igreja Anglicana All Saints’ Churchyard, identificado como Eric Arthur Blair. Distopias.
Conheça um pouco mais sobre o autor:
A Revolução dos Bichos
Verdadeiro clássico moderno, concebido por um dos mais influentes escritores do século XX, A Revolução dos Bichos (título agora também traduzido como “A Fazenda dos Animais”) é uma fábula sobre o poder. Escrita em 1945, satiriza o totalitarismo e a hipocrisia da tirania. Um dos textos mais premiados do século 20, o texto de Orwell foi eleito pela revista Time como um dos 100 melhores livros já publicados em língua inglesa.
A história narra a insurreição dos animais de uma granja contra seus donos. A revolta é liderada pelos porcos Bola-de-Neve e Napoleão, que querem tirar os humanos do comando. Eles tentam criar uma sociedade utópica, porém Napoleão, seduzido pelo poder, afasta Bola-de-Neve e estabelece uma ditadura tão corrupta quanto a sociedade de humanos.
Com um pouco mais de três horas de duração, o audiolivro A Revolução dos Bichos levou três meses para ficar pronto e envolveu cerca de dez pessoas em seu processo de confecção. A superprodução conta com o que há de mais moderno em tecnologia para audiolivros: os efeitos sonoros binaurais. O áudio é percebido pelo ouvinte como dois sons diferentes, vindos de lugares diferentes e ocupando um espaço de 360°.
1984
Uma das obras mais importantes da literatura mundial, 1984 foi publicada em 1949, num momento onde a Europa destruída pela Segunda Guerra Mundial enfrentava o desespero da reconstrução e o surgimento de duas novas potências mundiais, os EUA e a Rússia, que representavam o que Orwell começou a chamar de Guerra Fria.
Num texto impactante, descrevendo uma sociedade distópica cinzenta dominada por um grupo de privilegiados que não permitiam a liberdade de expressão, e cujo representante maior nunca visto pessoalmente era o “Big Brother”, o insignificante Winston Smith repete diariamente seu trabalho enfadonho, sendo observado por câmeras e gravadores até dentro da própria casa.
Numa narrativa de tensão crescente a cada capítulo, o livro não apenas é uma obra fundamental para entender o que estamos presenciando com a evolução da tecnologia e com as distorções sociais cada vez mais acentuadas.
Na Pior em Paris e Londres
Na pior em Paris e Londres foi publicado em 1933 pelo autor de 1984 e A Revolução dos Bichos. É seu primeiro romance, mas, na época, ele ainda não havia adotado o nome de George Orwell. Era ainda Eric Arthur Blair, um ex-policial que abandonou o emprego e passou dias miseráveis em Londres e em Paris. Enquanto tentava viver do que escrevia, retrata o drama da fome e os problemas dos mendigos.
Dias na Birmânia
John Flory não esconde sua impaciência para com a vida de madeireiro na Birmânia (atual Mianmar) dos anos 1920, quando o remoto país asiático era uma colônia britânica. No clube de brancos racistas e bêbados que freqüenta, Flory é considerado um bolchevique por ser amigo dos “negros”, isto é, os nativos do lugar. “Expressar-se livremente é impensável”, diz Flory, sobre a miserável existência na colônia. “Você é livre para virar um bêbado, ocioso, covarde, maledicente, fornicador; mas não é livre para pensar por si mesmo. ” Apesar de não esconder sua estreita amizade com o médico local, um indiano honesto e dedicado, Flory demonstra relutância em defendê-lo abertamente, junto aos membros do clube europeu, contra as calúnias de U Po Kyin, magistrado nativo corrupto e ambicioso. A chegada de Elizabeth, uma jovem inglesa casadoira, faz o calejado administrador enxergar sua única chance de construir uma vida digna e feliz. Mas o angustiado Flory, um dos mais complexos e apaixonantes personagens modelados pelo gênio de George Orwell, parece não ter o poder de mudar o rumo dos acontecimentos.
Por Que Eu Escrevo e Outros Textos
George Orwell foi um dos autores de língua inglesa mais aclamados do século XX. Este volume reúne uma seleção dos treze melhores ensaios e textos curtos de não ficção lavrados pelo genial autor, agrupados por tema. Eis o melhor da prosa não ficcional de um autor combativo e comprometido como poucos com as questões de seu tempo – questões que na verdade dizem respeito a aspirações universais e atemporais do ser humano, como liberdade e justiça. Estes textos farão o deleite de todos os apreciadores de valores humanistas expressos em uma prosa irretocável.

Carlos Galego é assessor de comunicação da Tocalivros, com larga experiência no mercado cultural e de entretenimento.
É autor de dois livros e escolhido entre os 20 principais poetas nacionais em 2021 pelo Poetize.
Editor de trabalhos como Ruídos Urbanos (de Ricardo Martins), Poesia de Mim (de Vanessa Lima), Vou Ali e já volto! (de Gerson Danelon) e Frases da vida (de Alma Impressa).
Se dedica também a artes visuais, e ministra aulas e cursos de comunicação para setor privado, e oficinas de comunicação cultural em Secretarias de Cultura municipais