Carlos Drummond de Andrade, um dos principais nomes da literatura brasileira, faria aniversário neste 31 de outubro. Com um legado imenso, Drummond é considerado um dos mais renomados poetas do século XX.
O escritor fez parte da segunda geração modernista e foi precursor do movimento “poesia de 30”, com a publicação do livro “Alguma Poesia”. Para conhecer um pouco mais sobre sua vida e suas obras, continue lendo esse artigo.
A biografia de Drummond
Nascido em Itabira do Mato Dentro, interior de Minas Gerais, Carlos Drummond de Andrade foi descendente de uma família tradicional de fazendeiros da região. Formou-se em Farmácia, em Belo Horizonte, porém não exerceu a profissão.
Ministrou aulas de Geografia e Português no Ginásio Sul-Americano de Itabira e trabalhou como redator-chefe no Diário de Minas. Em 1930, publicou seu primeiro livro “Alguma Poesia”, numa pequena tiragem não comercial de apenas quinhentos exemplares.
É neste livro que Drummond publicou, pela segunda vez — a primeira foi em 1928, na Revista de Antropofagia —, um de seus poemas mais famosos: “No Meio do Caminho”. Na época, o texto foi profundamente criticado por sua simplicidade e repetição:
“No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.”
A partir daí, o poeta publicou diversos livros como Brejo das Almas; Contos de Aprendiz; Antologia Poética; Amor, Amores; Contos Plausíveis; Amar se aprende amando, entre muitos outros.
Entre os temas recorrentes que permeiam as obras do autor estão a solidão, a angústia, a passagem do tempo, a finitude humana e a reflexão sobre a condição humana. Seus versos muitas vezes exploram a dualidade entre o individual e o coletivo, o efêmero e o eterno. Além disso, ele frequentemente abordava as transformações sociais e políticas do Brasil, retratando as tensões entre o rural e o urbano, o tradicional e o moderno.
Além da poesia, o autor também escreveu livros infantis, contos e crônicas.
Entretanto, Drummond não se dedicou apenas à escrita, ele também era funcionário público como auxiliar de gabinete da Secretaria do Interior.
Em 1934, mudou-se para o Rio de Janeiro e empregou-se como chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação. Onde permaneceu até 1945.
Entre os anos de 1945 e 1962, foi funcionário do Serviço Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962.
Drummond foi homenageado centenas de vezes durante sua vida e também após sua morte, dentre elas recebeu o título de “Doutor Honoris Causa” pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
O escritor morreu em 17 de agosto de 1987, aos 85 anos, vítima de infarto e insuficiência respiratória.
Qual é o seu legado?
O legado de Carlos Drummond de Andrade é indiscutível. Sua contribuição para a literatura brasileira influenciou gerações de poetas e escritores, inspirando-os a explorar novas formas de expressão e a investigar a alma humana com profundidade. Sua capacidade de criar versos que ecoam as complexidades da vida e da condição humana continua a ressoar com leitores de todas as idades.
Além disso, Drummond também desafiou as convenções literárias de sua época, contribuindo para a expansão do horizonte da poesia brasileira. Sua obra é frequentemente estudada em escolas e universidades, sendo lembrado como um dos pilares do modernismo brasileiro e um dos maiores poetas da língua portuguesa.
Leia as obras de Carlos Drummond de Andrade
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Alguma Poesia
Publicado em 1930, “Alguma poesia” assinala a estreia de um autor que, então com 28 anos, iria revolucionar a poesia de língua portuguesa no século XX.
Com peças como “Poema de sete faces”, “Infância”, “No meio do caminho”, “O sobrevivente”, entre tantos outros textos decisivos, o livro demonstra já a enorme maturidade do jovem Drummond, ainda estabelecido em Belo Horizonte.
O Poder Ultrajovem
O poder ultrajovem reúne textos publicados por Carlos Drummond de Andrade na imprensa entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970. Trata-se de um poderoso conjunto de prosa e verso – sempre pendendo para os domínios da crônica, gênero que o grande escritor mineiro praticou como poucos -, em que o olhar maduro e algo desencantado (mas com muita ironia) do autor se debruça sobre os mais diversos aspectos da vida e da sociedade daquela época.
Temas como a amizade, a história do Brasil, a vida no Rio de Janeiro, as artes, o Carnaval, o futebol e até mesmo a ecologia aparecem no estilo leve e sempre afiado de Drummond. As crianças e os jovens ocupam um espaço à parte no livro, pois são agudos os apontamentos a respeito das transformações pelas quais meninos e meninas atravessavam naqueles tempos conturbados em que conviviam, ao menos no Brasil, os hippies e um regime antidemocrático instaurado em 1964 (tendo ficado ainda mais duro e violento justamente na passagem para os anos 1970), a pobreza e a exuberância econômica e cultural da Zona Sul do Rio de Janeiro.
Sentimento do mundo
Sentimento do mundo, publicado em 1940, quando Carlos Drummond de Andrade tinha 38 anos, é seu terceiro livro de poemas, mas o primeiro escrito após a mudança para o Rio de Janeiro, então capital do país. O poema-título, que abre o volume, registra a abertura do poeta para uma visão mais ampla da humanidade. No conjunto de poemas aqui reunidos, há também uma atitude política mais participativa e empenhada (mesmo que ciente de seus limites) na transformação da realidade.
Os poemas sociais de Sentimento do mundo são alguns dos melhores já produzidos em nossa literatura. “O operário no mar”, “Os ombros suportam o mundo”, “Mundo grande” e a “Noite dissolve os homens”, entre outros, são exemplos de uma literatura engajada na qual, como escreveu o crítico Antonio Candido, referindo-se ao posicionamento político de Drummond na época, a “adesão ao socialismo e a negação do sistema capitalista” se fazem “em chave de lirismo, como alguma coisa que vem de dentro e existe antes de mais nada enquanto modo de ser”.
Antologia poética
Poucos autores brasileiros foram tão conscientes no exame da própria obra como Carlos Drummond de Andrade.
O poeta mineiro era organizado, cioso do seu ofício e sabia exatamente o seu tamanho na trajetória da poesia brasileira do século XX.
Prova disso é a Antologia poética, reunida e organizada pelo próprio Drummond em 1962 – quando o poeta completava 60 anos de idade e 30 de intensa atividade literária -, e uma das melhores portas de acesso para quem deseja conhecer a imensa obra do itabirano. E ninguém melhor que o próprio Drummond para reunir desde poemas clássicos de seu percurso até outras peças menos conhecidas.
O amor, a morte, a memória, a família e o passado brasileiro comparecem neste conjunto de poemas, organizados em nove seções.
Claro Enigma
Publicado em 1951, “Claro enigma” representa um momento especial na obra de Drummond. Com uma dicção mais clássica, o poeta revisita formas que haviam sido abandonadas pelo Modernismo (como o soneto, modalidade que fora motivo de chacota entre as novas gerações literárias), afirma seu amor pela poesia de Dante e Camões e busca uma forma mais difícil, mas sem jamais abandonar o lirismo e a agudeza de sua melhor poesia.
“Claro enigma” conta com “A máquina do mundo” – eleito o melhor poema brasileiro do século XX por um grupo de críticos e especialistas consultados pelo jornal Folha de S.Paulo. Escrito em tercetos, é simultaneamente uma meditação profunda e uma espécie de épica íntima sobre a passagem do tempo e o conhecimento da vida como acontecimento breve e muitas vezes fortuito.
A Rosa do Povo
Publicado em 1945, “A rosa do povo” é o livro politicamente mais explícito de Drummond. É um poderoso olhar sobre a Segunda Guerra, a cisão ideológica, a vida nas cidades, o amor e a morte.
Tudo isso é observado a partir daquela que então era a capital do país, pois é escrevendo a partir desse Rio de Janeiro que se urbanizava freneticamente, dando as costas ao passado, que Drummond fala da guerra e de seus desdobramentos no continente europeu e presta seu tributo aos milhões de civis que pereceram no conflito, além de refletir sobre a própria possibilidade de expressar todos esses acontecimentos em verso.
Com sua beleza e profundidade, “A rosa do povo” traz um Drummond de vasto escopo temático. A personalidade do poeta, a família, o cotidiano e a História comparecem com inaudita força neste livro. Trata-se de um testemunho de suas ideias e afetos num momento da vida em que experimentava a maturidade e já começava a olhar para o passado enquanto captava, como poucos autores, os sinais confusos de seu próprio tempo.

Jornalista e Especialista em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais, faz parte da equipe de Marketing da Tocalivros. Ama literatura latino-americana e brasileira, sendo entusiasta de tudo que envolve nossa região.