Em 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra, data que lembra e reflete a importância e contribuição histórica, cultural e social da população negra no Brasil e no mundo. Esse dia foi escolhido em homenagem à Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, maior quilombo brasileiro, com aproximadamente 20 mil negros fugidos na época colonial.
Continue lendo este artigo para entender mais sobre o tema e aprofunde-se sobre o passado para valorizar o presente e construir um futuro mais igualitário.
O que foi a escravidão
No Brasil colônia, milhares de negros africanos foram trazidos à força para o país para sevirem de escravos para trabalharem nas plantações e nas cidades. Em 1535 chegou ao Brasil o primeiro navio negreiro e a partir daí, vários outros navios desses chegaram ao país, tornando-se um tráfico negreiro.
Além de serem trazidos à força, os negros escravizados trabalharam sem o mínimo de dignidade, sem salário e foram expostos a todo tipo de situação degradante: castigo, fome — já que a alimentação era de péssima qualidade — e “morando” em uma senzala. Isso sem falar que as mulheres negras eram exploradas sexualmente e usadas de mão-de-obra para trabalhos domésticos, como cozinheiras e faxineiras.
Com isso, milhares de negros fugiam das fazendas e locais de trabalho e muitas vezes se refugiavam nos quilombos espalhados pelo Brasil. Os quilombos eram comunidades formadas por escravos fugidos. Esses lugares se transformaram em centros de resistência dos escravos negros, em que eles podiam realizar atividades diversas agricultura, extrativismo, criação de animais, exploração de minério e atividades mercantis.
Nesses locais, os negros tratavam de reviver suas tradições africanas. O melhor de tudo era que podiam voltar a ser livres, cultuar seus deuses e praticar suas danças e músicas. E sempre lembrando-se dos companheiros escravizados, então eles se juntavam para ajudar na fuga dos que ficaram nas fazendas, ou economizavam dinheiro com o que vendiam para comprar a liberdade dos companheiros.
Apenas por curiosidade: quilombo significa “local de descanso e acampamento”, é uma palavra com origem na língua quimbundo, que faz parte do grupo idiomático africano bantu, predominante na região de Angola.
A abolição da escravatura aconteceu em 13 de maio de 1888, quando a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, porém os movimentos abolicionistas no Brasil existiam há anos: eles se uniam para panfletar e promover debates contra a escravidão. Os principais defensores da abolição da escravatura são Luiz Gama, José do Patrocínio e André Rebouças. Também foi criada a Confederação Abolicionista, maior associação abolicionista do país, que organizou ações pela causa.
Em contrapartida, o Império fazia uma pressão enorme para o fim da escravidão no Brasil — visto que o país foi o último da América Latina a abolir a escravidão —, porque a Rússia havia acabado com a servidão em seu território, e os Estados Unidos haviam abolido a escravidão depois da guerra civil.
A escravidão no Brasil durou 388 anos.
Quem foi Zumbi dos Palmares?
Zumbi é uma das figuras mais emblemáticas da história do Brasil. Foi um dos líderes do maior quilombo que já existiu: o Quilombo dos Palmares, localizado onde hoje conhecemos como Pernambuco.
Sabe-se muito pouco sobre a vida de Zumbi — lembrando que, por muitos anos, a história negra no Brasil e no resto do continente foi apagada e silenciada, começamos a saber mais sobre figuras importantes e contextos históricos muito recentemente —, porém ele nasceu por volta de 1655 no próprio Quilombo dos Palmares. Ainda menino foi capturado e entregue aos cuidados do padre Antônio Melo.
Aos 15 anos fugiu para o Quilombo dos Palmares, onde tornou-se líder. Casou-se com Dandara dos Palmares, tendo sido uma grande influência na forma como ele administrava o quilombo. Juntos tiveram três filhos: Motumbo, Harmódio e Aristogíton.
O líder quilombola foi morto em 20 de novembro de 1695. No século XX, Zumbi tornou-se um grande símbolo de resistência, tornando o dia de sua morte o Dia da Consciência Negra.
Qual é a importância da Consciência Negra?
A história negra no Brasil é permeada por resistência, luta e conquistas. Desde os tempos dos quilombos até os movimentos sociais contemporâneos por igualdade racial. O Dia da Consciência Negra é uma celebração à essa resiliência e um momento para honrar as figuras históricas e os ativistas modernos que dedicam suas vidas à causa da igualdade racial.
Apesar dos avanços alcançados, a luta por igualdade racial ainda é uma realidade. A discriminação, o preconceito e a exclusão persistem em várias esferas da sociedade. O Dia da Consciência Negra nos convida a refletir sobre as desigualdades presentes em áreas como educação, emprego, saúde e justiça. Através dessa reflexão, podemos nos comprometer a trabalhar para eliminar essas disparidades e construir um Brasil mais justo e inclusivo.
O Dia da Consciência Negra é um lembrete anual da importância de reconhecermos a história, honrarmos a luta e nos comprometermos com um futuro mais igualitário. É um momento de reflexão pessoal e coletiva, de aprendizado e de ação. Ao celebrarmos essa data, reafirmamos nosso compromisso em construir uma sociedade onde todas as vozes sejam ouvidas, todos os direitos sejam respeitados e todas as oportunidades sejam acessíveis a todos, independentemente de sua origem étnica.
Ouça audiolivros escritos por pessoas negras
Escutar histórias de pessoas racializadas é uma ótima maneira de aprender e criar empatia, bem como entender a luta através dos séculos e tudo o que eles passam. A partir da leitura, você também pode compreender e juntar-se ao movimento contra o racismo.
Olhos D’água
Em “Olhos d’água”, Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem. Sem sentimentalismos, mas sempre incorporando a tessitura poética à ficção, seus contos apresentam uma significativa galeria de mulheres: Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida, a menina Zaíta. Ou serão todas a mesma mulher, captada e recriada no caleidoscópio da literatura em variados instantâneos da vida?
Elas diferem em idade e em conjunturas de experiências, mas compartilham da mesma vida de ferro, equilibrando-se na “frágil vara” que, lemos no conto “O Cooper de Cida”, é a “corda bamba do tempo”. Em Olhos d’água estão presentes mães, muitas mães. E também filhas, avós, amantes, homens e mulheres – todos evocados em seus vínculos e dilemas sociais, sexuais, existenciais, numa pluralidade e vulnerabilidade que constituem a humana condição. Sem quaisquer idealizações, são aqui recriadas com firmeza e talento as duras condições enfrentadas pela comunidade afro-brasileira.
Água de barrela
As muitas mulheres negras presentes no romance Água de Barrela, de Eliana Alves Cruz encontram no lavar, passar, enxaguar e quarar das roupas das patroas e sinhás brancas um modo de sobrevivência em quase trezentos anos de história, desde o Brasil na época da colônia até o início do século XX. O título do romance remete a esse procedimento utilizado por essas mulheres negras de diferentes gerações e que garantiu o sustento e a existência de seus filhos e netos em situações de exploração, miséria e escravidão. A narrativa inicia-se com a comemoração do aniversário de umas das personagens após viver um século de muitas lutas, perdas, alegrias, tristezas e principalmente resiliência. Damiana, personagem central para a narrativa, cansada das batalhas constante e ininterruptamente travadas pela liberdade, se vê rodeada por sua família e se recorda dos tempos de lavadeira.
Parem de nos matar
Todas as vezes que surge uma personagem negra estereotipada como essa nos programas de entretenimento aos domingos, a segunda-feira das crianças e adolescentes negros na escola será um filme de terror que se estenderá por semanas, meses e anos, a depender da duração da personagem na tevê. E os familiares dessas crianças perderão horas, dias, semanas e meses preciosos de educação, lazer e fruição ensinando-as a reagir, a não sucumbir, a manter a cabeça erguida, a preservar o amor próprio diante de tanta violência direcionada e objetiva.
Os exemplos racistas da televisão também inspirarão situações de discriminação racial na escola, minimizadas por professoras e professores cansados e despreparados, para dizer o mínimo. As crianças e adolescentes negros que não tiverem tido as lições de sobrevivência do amor-próprio ministradas em casa se sentirão sozinhos, desprotegidos e injustiçados.
Negra nua crua
Negra Nua Crua é o segundo livro publicado de forma independente por Mel Duarte, poeta, slammer e produtora cultural. A obra, lançada em 2016, traz consigo o prefácio da cantora Tássia Reis e carrega 75 páginas de poesias que retratam, de forma arrebatadora, as vivências, inquietações, dores e experiências da mulher negra contemporânea sob a sua própria ótica: a autora, a partir de si, generaliza a condição do sujeito feminino negro e expõe em versos o que cerca esse ser por vezes estereotipado ao longo da literatura brasileira, mas que vem ganhando voz – e representatividade nas escritas atuais.
Senti na pele
Projeto desenvolvido pelo jornalista e ator Ernesto Xavier, neto dos atores Chica Xavier e Clementino Kelé, o Senti na pele é uma página no facebook para a denúncia dos casos de racismo que ocorrem no Brasil. As denúncias são feitas em forma de relatos escritos pelas vítimas que informam os fatos que viveram e o impacto que estas situações trouxeram para as suas vidas, construindo, a partir da página, uma rede de afetos e de fortalecimento para o combate a discriminação racial. O livro lançado pela editora Malê reúne estes relatos, como forma de documentar e promover as denúncias, ampliando as reflexões sobre a discriminação racial no Brasil, na busca de que a reflexão sobre os fatos possa motivar a realização de práticas positivas para a igualdade racial.
Jornalista e Especialista em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais, faz parte da equipe de Marketing da Tocalivros. Ama literatura latino-americana e brasileira, sendo entusiasta de tudo que envolve nossa região.