Falar de Conceição Evaristo é falar de um Brasil presente, real e pulsante. De uma literatura necessária, de reflexões e histórias que não podem ser apagadas.
Linguista, romancista, poeta e contista, a mineira vinda da extinta comunidade de Pindura, na zona sul de Belo Horizonte, nasceu em 29 de novembro de 1946. Trabalhou como diarista, se tornou professora e fez faculdade de letras, além de mestrado e doutorado.
Uma das expoentes e mais influentes autoras da literatura contemporânea é autora de oito livros, entre eles o romance “Ponciá Vecêncio”, sua obra mais celebrada.
Homenageada da Bienal do Livro 2019, obras traduzidas e lançadas em outros idiomas e países, tem, entre as honrarias, a premiação em 2023 com o Troféu do Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano, por sua obra e pelo lançamento de ‘Canção para Ninar Menino Grande’, obra literária lançada em 2022, onde aborda de forma habilidosa as contradições e intricadas nuances que envolvem a expressão da masculinidade por parte de homens negros e suas repercussões nas relações com mulheres negras.
Conceição Evaristo rompe fronteiras do obscurantismo para trazer a luz, em suas obras, o protagonismo feminino e a permanência da exclusão do negro desde a escravidão no período colonial brasileiro. Uma literatura realista e que expressa a dignidade do povo negro, libertando-o da opressão de séculos.
Sua raiz é brasileira. De ascendência angolana, beninense, nigeriana, serra-leonina, ugandensa, sul-africana, norte-africana e indígena. Seu aniversário é um presente para todos nós.
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A autora traça a trajetória da personagem da infância à idade adulta, analisando seus afetos e desafetos e seu envolvimento com a família e os amigos. A questão da identidade de Ponciá, centrada na herança identitária do avô, estabelece um diálogo entre o passado e o presente, entre a lembrança e a vivência, entre o real e o imaginado.
Sem meias palavras, seus contos apresentam uma significativa galeria de mulheres: Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida, a menina Zaíta. Ou serão todas a mesma mulher, captada e recriada no caleidoscópio da literatura em variados instantâneos da vida? Em Olhos d’água estão presentes mães, filhas, avós, amantes, homens e mulheres – todos evocados em seus vínculos e dilemas sociais, sexuais, existenciais, numa pluralidade e vulnerabilidade que constituem a humana condição.
Uma rica visão poética emotiva e a tematização sentimental, social, familiar e religiosa; com coragem, experiência, estilo bem definido e uso de intertextualidades são enunciadas pela autora a pobreza, a fome, a dor e “a enganosa-esperança de laçar o tempo”; assim como há espaço para a paixão, o amor e o desejo. Nada, porém, é superficial, gratuito ou excessivo em Poemas da recordação e outros movimentos, que se sustenta em crítica social e no profundo de cada experiência.
Um dos mais importantes romances memorialistas da literatura contemporânea brasileira. A partir de seus muitos personagens, a complexidade humana e os sentimentos profundos dos que enfrentam cotidianamente o desamparo, o preconceito, a fome e a miséria; dos que a cada dia têm a vida por um fio. Sem perder o lirismo e a delicadeza, a autora discute, como poucos, questões profundas da sociedade brasileira.
Carlos Galego é assessor de comunicação da Tocalivros, com larga experiência no mercado cultural e de entretenimento.
É autor de dois livros e escolhido entre os 20 principais poetas nacionais em 2021 pelo Poetize.
Editor de trabalhos como Ruídos Urbanos (de Ricardo Martins), Poesia de Mim (de Vanessa Lima), Vou Ali e já volto! (de Gerson Danelon) e Frases da vida (de Alma Impressa).
Se dedica também a artes visuais, e ministra aulas e cursos de comunicação para setor privado, e oficinas de comunicação cultural em Secretarias de Cultura municipais