Por muitas senhoras  (ou O tapa com luva de pelica)

Por muitas senhoras  (ou O tapa com luva de pelica)

Jane Austen não teve nome.

No enredo do século XVII e XVIII, não havia espaço para as mulheres, principalmente as intelectuais, nem por isso, a inglesa nascida dia 16 de dezembro de 1775 deixou de publicar, seus romances, crônicas, poemas e textos; ela optou pelo anonimato.

Sua obra personifica o retrato do início de 1800 – uma sociedade machista e patriarcal, na qual os direitos das mulheres não eram nem cogitados. Isso porque, as mulheres da época eram objetificadas com inferioridade. Mesmo nas classes nobres, de posses e famílias abastadas, as mulheres recebiam uma educação muito básica, caseira, e voltada para enaltecer as habilidades “do lar” e que lhe assegurariam um bom marido. Falamos, aqui, de costura, pintura, bordado, culinária e, claro, dotes musicais. Ciências eram um campo restrito ao “eu masculino”, assim como Exatas. Literatura, pensamento então!, nem se fala. Por anos, acreditou-se que a capacidade intelectual das mulheres era ínfera quando comparada à sua contraparte de gênero, e que isso era um traço de natureza divina.

É neste e deste ambiente doméstico destinado à mulher “crescer-casar-ter filhos-cuidar da prole e da casa”, que surgiram os romances “Razão e Sensibilidade”, “Mansfield Park”, “Emma”, “ A Abadia De Northanger”, “Lady Susan”, “Persuasão” e “Orgulho e Preconceito”. Obras que se tornariam marcos atemporais e emancipariam desejos e discussões acaloradas sobre o papel dos gêneros na sociedade e o que suas delimitações causam. Não obstante, o furor do lançamento seria catalisado pelo pseudônimo da autora: “por uma senhora!” E que senhora!

Seu nome só seria revelado em 1817, após sua morte. E que curioso é, que até hoje, quando se fala em romance inglês (do século XVIII), um dos principais nomes a serem comentados não é de um homem, mas de uma mulher cuja obra serve de inspiração e entretenimento para os mais diversos públicos até os dias de hoje: Jane Austen.

Nascida em Hampshire, a segunda mulher da casa e a mais nova de uma família de sete irmãos, a autora de romances consagrados mundialmente, ficou conhecida por suas personagens femininas que desafiavam os paradigmas da época, por seus diálogos e ironias presentes nos romances.

Apesar de não pertencer  à aristocracia, por incentivo de seu pai, dominava a leitura e escrita.  Como a maioria das mulheres no seu tempo, participava das atividades sociais esperadas na época: ir a bailes,  missa, trocar correspondências com sua irmã, estudar música etc. Mas, ao contrário das tradições comuns, foi dessa vivência que os olhos sagazes dessa observadora captaram detalhes da vida da sociedade, inspirando-a a produzir suas obras literárias.

Austen sabia exatamente o que estava escrevendo: falava para uma sociedade educada e polida, registrava fielmente os cenários da época e atingia seu público. Em um quebra-cabeça das letras que nos estimula a articular exatamente o que torna a ficção de Jane Austen tão especial.

Abordava questões de gênero e feminismo ao apresentar personagens femininas inteligentes, questionadoras e articuladas, em busca de romper barreiras sociais para alcançarem seus objetivos – em temas que transitam em torno da vida das mulheres na Inglaterra do final do século XVIII e início do século XIX.

Romances que retratam as dificuldades enfrentadas pelas mulheres na época, como a falta de oportunidades educacionais, a dependência financeira dos homens e a pressão social para se casarem,  expondo a busca por amor verdadeiro versus a necessidade de segurança financeira.

Jane Austen também explorou questões como o papel do dinheiro e da classe social na sociedade, as expectativas sociais e familiares, e a busca por amor e felicidade. Apresentou tensões entre as diferentes classes sociais ao incluir a luta das personagens por ascensão social e as limitações impostas por sua posição na hierarquia de classes, explorando as consequências do preconceito e da intolerância. Em todos seus enredos, acrescentava aos temas personagens com dilemas éticos, como honestidade, lealdade e integridade moral.

Entre o romantismo, seu realismo foi além de simples histórias de amor e casamentos. Uma crítica, aos moldes da cortês tradição inglesa, sobre a posição das mulheres e da vida social na Inglaterra. Jane Austen foi o “tapa com luva de pelica”.

Conheça Jane Austen

Orgulho e Preconceito



O sonho da Sra. Bennet era casar bem suas cinco filhas: Jane, Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia. Entre as irmãs, destaca-se Elizabeth, a Lizzy, que se depara com um turbilhão de sentimentos diante do orgulho e preconceito que mascaram a realidade. Um clássico que, mesmo após duzentos anos desde a sua primeira publicação, continua a encantar milhões de leitores ao redor do mundo.

Razão e Sensibilidade

Inglaterra. Final do século XVIII. Bailes, carruagens e jantares luxuosos. Após a morte do pai, duas irmãs se veem obrigadas a morar de favor numa casa simples e distante, muito diferente do que estavam acostumadas até então. Envolvidas pelas sutilezas do amor tentam, cada uma a seu modo, sobreviver num mundo cujo rumo das paixões se define pela posição social.

Mansfield Park


Em Mansfield Park, todos passam fazendo suposições erradas sobre outras pessoas. São típicos personagens reais, inclassificáveis, difíceis, contraditórios e confusos. Antagonistas agem mais como heróis, heroínas antipáticas, vilões que se transformam em protagonistas. Escândalos surgem: pecado; tentações, obstruções interpessoais; impropriedades que chocam, excitam e produzem fofocas; a desgraça e a queda públicas; a vitimização e a acusação profética; a expulsão e o sacrifício empreendidos pelo mau gosto da mídia.

Emma


Emma é uma jovem bonita e rica que mora em uma vila perto de Londres em companhia de seu pai, e faz questão de deixar claro que será solteira para sempre. Depois que sua governanta e confidente se casa, sua vida torna-se mais enfadonha, então se diverte manipulando os destinos dos jovens que a cercam, para formar pares da maneira que lhe convém. Quando sua habilidade como casamenteira se revela desastrosa, ela terá de rever seus critérios. E quando menos espera surge um amor.

A Abadia De Northanger


Primeiro romance concluído por Jane Austen — apesar de só publicado postumamente, em 1818. Com a precisão característica de Austen, este livro trabalha com elementos cômicos para retratar uma sociedade estratificada que vê no dinheiro e nas posses a razão de qualquer ação.

Por Carlos Galego

Carlos Galego

Carlos Galego é assessor de comunicação da Tocalivros, com larga experiência no mercado cultural e de entretenimento. É autor de dois livros e escolhido entre os 20 principais poetas nacionais em 2021 pelo Poetize. Editor de trabalhos como Ruídos Urbanos (de Ricardo Martins), Poesia de Mim (de Vanessa Lima), Vou Ali e já volto! (de Gerson Danelon) e Frases da vida (de Alma Impressa). Se dedica também a artes visuais, e ministra aulas e cursos de comunicação para setor privado, e oficinas de comunicação cultural em Secretarias de Cultura municipais 

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