Mário de Andrade: o pilar da modernidade da literatura brasileira

Mário de Andrade: o pilar da modernidade da literatura brasileira

Mário de Andrade é uma das figuras mais proeminentes da literatura brasileira e um dos principais expoentes do movimento modernista no Brasil. Nascido em São Paulo, em 1893, Mário teve uma trajetória artística e intelectual que o colocou como um dos grandes renovadores de nossa cultura, redefinindo o conceito de identidade nacional e influenciando diversas gerações de escritores, músicos, artistas e críticos. 

Sua obra, dividida em poesia, prosa de ficção, folclore, ensaios e histórias da música, é até hoje um marco da literatura nacional por ter introduzido uma nova linguagem literária, se apropriando da linguagem popular, diferentemente do academicismo da época. 

O Modernismo e a Semana de Arte Moderna de 1922

A importância de Mário de Andrade para a literatura brasileira se consolidou durante a Semana de Arte Moderna de 1922, marco de ruptura com os padrões literários e artísticos vigentes até então, como o parnasianismo e o simbolismo — movimentos literários que surgiram na França no século XIX.

Junto de figuras como Oswald de Andrade, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, Mário de Andrade encabeçou um movimento que buscava, de forma radical, um estilo literário livre de amarras europeias e mais próximo da realidade brasileira.

Seus escritos revelam uma profunda reflexão sobre a identidade do Brasil, evidenciada por sua busca constante em dialogar com a cultura popular e as raízes afro-brasileiras e indígenas. Ele acreditava que, para a literatura brasileira se tornar verdadeiramente autêntica, era necessário valorizar esses aspectos da cultura nacional, uma visão revolucionária para a época.

“Macunaíma”: o herói sem nenhum caráter 

Mário de Andrade atingiu o ápice de sua obra literária com o romance “Macunaíma” (1928), uma das narrativas mais emblemáticas e originais da literatura brasileira. Com um herói caracterizado por sua astúcia e falta de moral, “Macunaíma” é uma obra que mistura mitologia indígena, folclore e crítica social, sintetizando de forma irônica e satírica a complexidade da cultura brasileira. 

O personagem central é um anti-herói que percorre diversos cenários do Brasil, numa alegoria sobre a miscigenação e a diversidade do país.

A linguagem inovadora de “Macunaíma”, marcada por um estilo coloquial, brincadeiras com palavras e o uso de dialetos regionais, foi um grande feito para a época. O romance não apenas refletia as contradições do Brasil, mas também celebrava a diversidade cultural, fundindo o erudito e o popular em uma narrativa de grande profundidade.

“Amar, verbo intransitivo”: a inovação e ousadia temática

“Amar, Verbo Intransitivo” é uma obra pioneira na literatura brasileira por tratar de maneira tão franca temas como a sexualidade e a educação sentimental. Ao questionar a moral burguesa e desvelar as hipocrisias da elite paulista, Mário de Andrade criou uma obra que, ainda hoje, provoca reflexões sobre o comportamento humano e as convenções sociais.

Embora não tenha recebido o mesmo reconhecimento imediato que outras obras do autor, como “Macunaíma”, o romance se consolidou como uma peça essencial no desenvolvimento da prosa modernista brasileira. Sua abordagem inovadora e seu olhar crítico para as normas sociais da época fazem de “Amar, Verbo Intransitivo” um livro que transcende seu tempo e permanece relevante nas discussões literárias e sociais.

Leia outras obras de Mário de Andrade

Gato que Não Cantou

“É ordem das sociedades que uns ajoelhem para que os outros lhes subam às costas.” O tema da submissão percorre o conto “Galo que não cantou”, de Mário de Andrade. Nele, o caseiro Telinho casa-se com a controladora e dominadora Jacinta, filha de dona Cremildes. Ele se deixa dominar pela esposa, até que um dia se revolta.

Brasília

O título do conto nada tem que ver com a capital do Brasil, que não existia em 1921! No enredo, um cidadão francês busca algo no Brasil que seja autenticamente nacional. Para sua decepção, o que encontra é um Brasil europeizado. Mário de Andrade traz uma reflexão sobre a construção da identidade nacional.

Tempo da Camisolinha

Nesse emocionante conto de Mário de Andrade, o narrador recorda um momento singular de sua infância, quando lhe cortaram os preciosos cachos dos cabelos de que ele tanto gostava. O cenário é a cidade de Santos, onde ele passava férias. O enredo se concentra num presente que ele ganha: estrelas-do-mar, que lhe trariam boa sorte. Dias depois… é ler o conto!

O Ladrão

Numa São Paulo que se industrializa, um bairro é acordado pelos gritos de pega-ladrão que irrompem na madrugada. A perseguição é inicialmente caracterizada por grande agitação; os moradores, pincelados com mestria por Mário de Andrade (a portuguesa, a italiana, o jornaleiro e outros), reagem de forma assustada e mesmo histérica, mas aos poucos se solidarizam e se unem na caça ao ladrão.

Vestida de Preto

Com uma pitada moderna de metalinguagem, o narrador traz a história de Juca e Maria, que, na adolescência, tem um início de relação de namoro que logo esfria: Juca torna-se um mau aluno e Maria se afasta dele. Essa condição, no entanto, muda: eles crescem, Juca passa a ser estudioso e Maria, dizem, vira uma namoradeira, até casar-se com um diplomata rico e deixar o Brasil.

O Empalhador de Passarinho

“O empalhador de passarinho” é uma reunião de breves textos de Mário de Andrade de natureza múltipla, em que nosso grande modernista disserta sobre temas que vão do conceito de conto, e seus maiores representantes na literatura brasileira, até um belo ensaio crítico de “Fogo morto”, romance de José Lins do Rego, passando por leituras das obras de Murilo Mendes, Camargo Guarnieri, Cecília Meireles, entre outros. Se ler a obra literária de Mário de Andrade é prazer garantido, debruçar-se sobre suas obras críticas é, por extensão, sentir toda a força de nossa cultura. Longe de ser uma crítica empalhada, os textos aqui reunidos nos fazem sentir no centro de uma revoada de passarinhos, no turbilhão produtivo da arte nacional.

Beatriz Gouvêa

Jornalista e Especialista em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais, faz parte da equipe de Marketing da Tocalivros. Ama literatura latino-americana e brasileira, sendo entusiasta de tudo que envolve nossa região.

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