O Dia Nacional da Língua Portuguesa é comemorado no dia 5 de novembro, uma data que, para muitos, passa despercebida. Para mim, é um momento de reflexão sobre a importância dessa língua que conecta milhões de pessoas ao redor do mundo. Embora seja natural para os falantes diários, o português tem uma história rica e uma presença forte em várias regiões do planeta.
O que talvez muita gente não saiba é que a língua portuguesa vai muito além de Portugal e Brasil. São mais de 260 milhões de pessoas que falam português, sendo a sexta língua mais falada no mundo. E olha que impressionante: ela é a língua oficial em nove países, espalhada por quatro continentes! Essa diversidade geográfica não é comum a todas as línguas, e isso torna o português uma língua única.
No Brasil, o maior país lusófono, a língua foi moldada por uma mistura de influências indígenas, africanas e europeias. Quem diria que palavras como “abacaxi” e “pipoca” têm origem tupi? A convivência com outras culturas ao longo dos séculos deu ao português falado no Brasil um sotaque e vocabulário próprio, que o distingue, por exemplo, do português falado em Portugal.
Mas temos outros irmãos de língua. Países africanos como Angola e Moçambique também adotam o português como língua oficial. O mais curioso é que, em alguns desses países, o português convive com uma abundância de outras línguas locais. Em Angola, por exemplo, o português falado é tão diverso quanto ao próprio país. Assim como a interessante presença do português em Timor-Leste, no Sudeste Asiático. Após um longo período de colonização e depois da ocupação indonésia, o país atualizou o português como uma de suas línguas oficiais após conquistar a independência em 2002. É um fato que nem todo mundo conhece, mas que ilustra bem o alcance do idioma.
Quando falamos de curiosidades, há uma que sempre me surpreende: o português continua sendo a língua mais falada no hemisfério sul do planeta. É verdade! Seja pela enorme população do Brasil, ou pelos países africanos onde a língua é amplamente falada. Mas o que chama atenção é o ritmo com que cada palavra toma para invadir o mundo. Uma boa parcela da propagação do idioma ao redor do globo se faz pela música, afinal, quem nunca ouviu falar de Bossa Nova ou Samba? Essas formas de arte, tão brasileiras, ajudaram a levar o som da língua para todos os cantos do planeta. Mais recentemente, cantoras como Anitta e Ivete Sangalo aumentaram a visibilidade do sotaque português, levando o idioma para pistas de dança em todo o mundo, misturando ritmos locais com tendências globais.
A internet, claro, também tem ajudado a manter nossa língua viva e em evolução. Com as redes sociais, vídeos no YouTube e influenciadores digitais, o vocabulário e as expressões locais se espalham rapidamente entre os falantes de português. Expressões brasileiras, como “top” e “balada”, podem ser ouvidas até em Portugal!
Mesmo assim, a língua portuguesa enfrenta desafios. Em muitas nações africanas lusófonas, por exemplo, o português é falado por uma parcela menor da população. Em algumas regiões, ele é ensinado nas escolas, mas não é a primeira língua que as pessoas aprendem em casa. Isso levanta a questão de como a língua se adaptará ao futuro nessas regiões. No Brasil, o domínio da norma culta ainda é um desafio para muitos, e a educação de qualidade é o principal fator para garantir as mesmas oportunidades. Para muitos, a língua é um caminho para ascensão social, frequentemente associada à boa educação e competência profissional. Isso reforça a importância de se investir no ensino da língua desde cedo.
Mas, como dizemos em bom português brasileiro, “tenho fé”. O português tem um futuro promissor. O Brasil é uma potência cultural e econômica na América Latina, e a língua segue crescendo junto com o país. Além disso, o Mercosul, bloco econômico do qual o Brasil faz parte, adota o português como uma de suas línguas oficiais, o que reforça sua importância.
E não posso esquecer da literatura. Nomes como Machado de Assis, Fernando Pessoa e José Saramago continuam a ser referências mundiais quando o assunto é a língua portuguesa. As obras desses escritores atravessaram fronteiras e marcaram gerações, mostrando a beleza e a profundidade do português.
De tudo o que o idioma oferece, o que eu mais gosto é que ele está em constante transformação. A maneira como nos comunicamos hoje pode ser muito diferente de como as nossas avós se expressavam, e o que as próximas gerações vão falar pode ser algo totalmente novo. Isso é fascinante, porque a língua é, no fim das contas, uma expressão viva de como uma sociedade se relaciona com seu tempo.
Paro hoje para refletir sobre nossa história, nossa diversidade, riquezas e contradições. Mas brindo. Um salve a todos os povos, suas formas e sotaques. Viva a língua portuguesa.
Carlos Galego é assessor de comunicação da Tocalivros, com larga experiência no mercado cultural e de entretenimento.
É autor de dois livros e escolhido entre os 20 principais poetas nacionais em 2021 pelo Poetize.
Editor de trabalhos como Ruídos Urbanos (de Ricardo Martins), Poesia de Mim (de Vanessa Lima), Vou Ali e já volto! (de Gerson Danelon) e Frases da vida (de Alma Impressa).
Se dedica também a artes visuais, e ministra aulas e cursos de comunicação para setor privado, e oficinas de comunicação cultural em Secretarias de Cultura municipais