Stephen King vem para te buscar e do outro lado te levar

Stephen King vem para te buscar e do outro lado te levar

E daí você diz que não gosta de terror. Será mesmo? 

Na televisão, você assiste a série “The Dead Zone”, nos cinemas “O Aprendiz”. Tem o eletrizante episódio “Feitiço” em “Arquivo X”, assiste “Janela Secreta”, “O Apanhador de Sonhos”. E mesmo que você não aperte play no terror, com certeza já ouviu sobre a consagrada e imensa lista dos clássicos da sétima arte: “Carrie“, “Cemitério Maldito”, “Louca Obsessão”, “A Hora do Lobisomem“, “Crianças do Milharal”, e o aclamado “It:  A Coisa“.

Estamos a falar dele mesmo, Stephen King. O mestre da ficção e da fantasia, do frio na espinha, do medo que assombra, do ritmo dinâmico de suas histórias e personagens. Conhecido principalmente no gênero de terror, mas não só. Épicos como o filme “À Espera de Um Milagre” unem-se a outros gêneros e produções de aventura, suspense e ficção científica.  Trabalhos que somam mais de 65 romances — incluindo os escritos sob o pseudônimo Richard Bachman —, mais de 200 contos , compilações em antologias, e diversas obras de não-ficção.

E se é para adjetivar, já vamos aplaudir. Foi um dos primeiros autores a adotar o formato digital para a venda de livros. Estamos no ano 2000, quando foi lançada “Riding the Bullet”, uma novela disponibilizada exclusivamente na internet, que alcançou milhares de downloads em poucas horas. Isso foi há 24 anos. Só por isso já está consagrado pela Tocalivros!

O autor é habilidoso em produzir séries de sucesso, com um volume de vendas assustador: já são mais de 400 milhões de cópias dos seus livros em todo o mundo e obras traduzidas para mais de 40 idiomas. Um dos seus maiores sucessos comerciais foi “It: A Coisa” — aquele que você lembrou no início do texto. Publicado em 1986, o livro aborda a luta de um grupo de amigos contra uma entidade maligna — o palhaço Pennywise — que se alimenta do medo. “It”, como ficou conhecido, foi adaptado para a televisão em 1990 e para o cinema em 2017 e 2019, consolidando-se como um clássico contemporâneo e tornando Pennywise num ícone do terror.

Mas nem tudo são rosas. Nascido em 21 de setembro de 1947, numa típica história de pai que abandona a família e deixa a mãe responsável por criar os filhos, King passou uma infância vivendo em diferentes estados norte-americanos e enfrentando dificuldades financeiras. Desde jovem, com abertura para a escrita, participou na redação do jornal estudantil universitário, enquanto se formava em inglês, e ali começou a desenvolver as suas histórias. “Carrie”, seu primeiro livro, publicado em 1974, foi rejeitado por diversas editoras antes de ser finalmente aceito pela Doubleday. 

Para o terror das editoras que desdenharam os seus originais, a história da jovem com poderes telecinéticos foi um sucesso — e hoje um filme de culto. As vendas permitiram a King uma dedicação total à carreira de escritor. E daí, vieram as obras icônicas: “A Hora do Vampiro” (1975), “O Iluminado” (1977) — e posso dizer que poucas coisas são tão icônicas quanto a imagem de Jack Nicholson —, e “A Zona Morta” (1979) solidificaram a sua posição como um dos principais autores de literatura de terror, todos posteriormente adaptados para o cinema, aumentando ainda mais a popularidade das obras. 

É impossível falar de Stephen King sem mencionar “A Torre Negra”. Esta série de oito livros, que mistura elementos de faroeste, fantasia e terror, é muitas vezes descrita pelo próprio autor como a sua “magnum opus”. 

Intenso no ritmo de produção, ele publica quase um livro por ano, o que impressiona pela constância e qualidade do trabalho. King costuma dizer que escreve todos os dias, inclusive nos feriados, e que seu objetivo é produzir cerca de 2.000 palavras por dia. Esse ritmo de trabalho explica a vasta bibliografia que acumulou ao longo dos anos. Uma disciplina quase sobre-humana.

Baby Reindeer em sua Louca Obsessão

Consciente ou inconsciente, Stephen King segue influenciando pessoas, como na minissérie britânica Baby Reindeer (Bebê Rena). Criada e estrelada por Richard Gadd, a produção Netflix foi abordada pelos críticos que sugeriram semelhanças entre a série e a obra-prima “Misery: Louca Obsessão”, de King, lançada em 1987.

O assunto esquentou depois que Stephen King, fã assumido de Bebê Rena, em um texto publicado no The Times, agradeceu por ter tido a ideia antes ou seria acusado de roubar a ideia de Richard Gadd, criador, roteirista, produtor e protagonista da novidade.

Em Misery: Louca Obsessão, o caminho de uma enfermeira aposentada, fã dos romances de Misery Chastain, cruza o do autor da série de livros quando ele sofre um acidente em uma nevasca. Ela o resgata e o trancafia em um quarto em sua casa, torturando-o e ameaçando-o para que o autor reescreva o final do último livro da série, que não a agradou.

Em Bebê Rena, Gadd interpreta o comediante Donny Dunn – uma versão de si mesmo -, que está desesperado para realizar o seu sonho de viver da sua arte. No entanto, enquanto isso não acontece, ele trabalha como atendente em um bar de Londres, no que parecia ser mais um dia comum, Martha (Jessica Gunning) entra no estabelecimento. Dunn pergunta o que ela gostaria de beber, mas a mulher, que se apresenta como uma advogada de grandes personalidades, diz que não tem dinheiro. Compadecido, o bartender oferece uma xícara de chá como cortesia, sem saber que estava dando início a uma relação perturbadora com a mulher. Um enredo, que poderia facilmente ser puramente fictício, é, na verdade, uma representação fiel dos quatro anos de terror vividos por Gadd, marcados por uma inundação incessante de mensagens, presentes bizarros e uma sensação constante de paranoia.

Mas, mesmo o mestre do suspense e terror acreditando que a produção apresenta similaridades com um de seus romances, toda a polêmica só serviu para mais sucesso da minissérie. Ainda mais endossada pelo mestre King, que definiu os episódios de Bebê Rena como “golpes curtos e rápidos administrados por uma faca muito afiada”. Mérito de Gadd que parece ter seguido à risca a cartilha do terror e criado uma das minisséries de maior sucesso de todos os tempos do gênero.

Stephen King é um homem marcado. Uma combinação de talento natural, perseverança e capacidade de criar personagens que nos gelam a espinha. 

Leia com medo.

Carlos Galego

Carlos Galego é assessor de comunicação da Tocalivros, com larga experiência no mercado cultural e de entretenimento. É autor de dois livros e escolhido entre os 20 principais poetas nacionais em 2021 pelo Poetize. Editor de trabalhos como Ruídos Urbanos (de Ricardo Martins), Poesia de Mim (de Vanessa Lima), Vou Ali e já volto! (de Gerson Danelon) e Frases da vida (de Alma Impressa). Se dedica também a artes visuais, e ministra aulas e cursos de comunicação para setor privado, e oficinas de comunicação cultural em Secretarias de Cultura municipais 

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